terça-feira, 17 de março de 2009

Vida em manchetes.

- Viu só? Caiu outro avião.
- É. Desta vez foram 85 mortos.
- Já tomei uma decisão: nunca mais entro em um avião.
- Bobagem.
- Bobagem é morrer.
- Então não entra mais em carro, também. Proporcionalmente, morrem mais pessoas em acidentes de...
- Mas não entrar em automóvel eu já tinha decidido há muito tempo! Você não notou como eu ando mais magro? É de tanto caminhar.
- Você caminha por onde?
- Como, por onde? Pela calçada, ué.
- Dá todo dia no jornal “Ônibus desgovernado sobe na calçada e colhe pedestre. Vítima tinha jurado nunca mais entrar em qualquer veículo.” A chamada ironia do destino.
- Quer dizer que calçada...
- É perigosíssimo...
- O negócio é não sair de casa.
- E, é claro, mandar cortar a luz.
- Porque cortar a luz?
- Pensa bi dedo molhado e distraído na tomada do banheiro. “Caiu da escada quando trocava a lâmpada. Fratura na base do crânio.”
- Está certo. Corto a luz.
- “Tropeça no escuro e bate com a têmpora na quina da mesa. Morte instantânea.” E você vai cozinhar o quê?
- Gás.
- Escapamento. “Vizinhos sentiram cheiro de gás e forçaram a porta: era tarde”. Ou “Explosão de botijão arrasa apartamento”.
- Fogareiro a querosene.
- “Tocha humana! Morreu antes que...”
- Comida entalada fria.
- Botulismo.
- Mando comprar comida fora.
- Espinha de peixe na garganta. Ossinho de galinha na tranquéia. “Comida estragada, diarréia fatal!”.
- Não preciso de comida. Vivo de injeções de vitamina...
- Hepatite...
- ... E oxigênio.
- Poluição. “Autópsia revela: pulmão tava pior que saco de café.” Estrôncio 90 francês.
- Vou vier no campo, longe da poluição, do trânsito.
- Picada de cobra. Coice de mula. Médico não chega rápido.
- Não saio mais da cama.
- Está aprovado: 82 por cento das pessoas que morrem, morrem na cama. Não há como escapar.
- Mas eu escapo. A mim eles não pegam. Tenho um jeito infalível de escapar da morte.
- Qual é?
- Vou me suicidar.

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