sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Before and after.

Einstein passou à História por provar que tudo é relativo, mas disso sabe qualquer garoto: as fases ditas a uma criança são exatamente o contrário do que ela ouvirá trinta anos depois. Basta comparar os textos abaixo, para que a gente se convença de quanto é absurda a loteria da vida. Para a infância, não há nada mais diferente que o "antes" e o "depois".

Na infância.
Come, guri. Se você não comer, vai acabar doente. Anda, come o bife, está tão bom. Olha, se você comer, nem que seja a metade, eu te compro o Ferrorama.

Trinta anos depois.
Mas você já está comendo de novo? Recém jantou e já está na geladeira? Mas que vergonha, homem. Olha a tua barriga. Coisa mais indecente. Quando é que vai dar um jeito nisto? Sei, sei, amanhã começa a dieta. Já ouvi essa história mil vezes.

Na infância.
Vai ao colégio, sim. Que história é esta de ficar em casa? E nem vem me dizer que você está com febre, porque é mentira. Tem de ir ao colégio estudar e ser alguém na vida.

Trinta anos depois.
Faculdade? Depois de velho você quer voltar pra faculdade? Desista, meu caro, sua cabeça não dá mais, você tem que ficar no seu emprego, que além de tudo é tranqüilo. E depois, para que quer você um diploma? Pra ser mais um profissional liberal desempregado? Nada disto. Não vai para a faculdade, não. Fica em casa, que é melhor.

Na infância.
Olha aí, todos os teus brinquedos espalhados pelo chão. É por isso que você perde e quebre tudo. Olha: se você não juntar esses brinquedos em um minuto vai tudo para o lixo, ouviu? Para o lixo ou para o filho do zelador. Você não sabe valorizar as coisas que tem. Está na hora de aprender. Essas coisas custam dinheiro e dinheiro não se acha na rua.

Trinta anos depois.
Essa sua obsessão pela ordem, pela limpeza é apenas uma defesa contra a ansiedade. No fundo você é uma criança desamparada querendo harmonizar as partes em conflito de sua mente. Mas por hoje vamos ficar por aqui. A propósito: a partir da semana que vem vamos ter um aumento. É esse processo inflacionário que estamos vivendo. As coisas estão custando um dinheirão.

Na infância.
Agora chega. Desligua esta TV e vai dormir, anda. Amanhã você precisa levantar cedo pra ir ao colégio. Não, não tem nada de mais cinco minutinhos. Você ferveu o dia inteiro, agora tem de descansar.

Trinta anos depois.
Dormir? Você já vai dormir? Mas você não tinha dito que iríamos ao cinema hoje? Está bom, eu sei que você teve um dia cheio no escritório, que está cansado e com dor de cabeça. Mas a gente também precisa se divertir um pouco. Faz um mês que não saímos de casa. Foi para isso que a gente casou? Quando éramos noivos, você não queria saber de dormir, sempre dizia que a noite era uma criança e que ainda dava para fazer mais programa. Vamos lá, homem, te veste e vamos sair.

Na infância.
Nada disto. Você não vai andar de bicicleta. Agora está na hora de jantar. Além disto andar de bicicleta é perigoso. Você passa na entrada de garagens, vem um carro dirigido por um desses malucos que andam soltos por aí, te atropela e era uma vez um menino.

Trinta anos depois.
Você precisa fazer exercício, meu caro. Você leva uma vida muito sedentária, todo o dia sentado numa cadeira, no escritório. Isto é perigoso. Afinal, você já entrou na faixa etária. E exercício é bom para descarregar a tensão. Por que você não anda de bicicleta, por exemplo? Olha, até que é divertido.

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